Ricardo Dias

O elefante por debaixo do tapete - a IA e a fotografia, hoje e agora

Oct 03, 2023Por Ricardo Dias
Ricardo Dias

Antes de mais, todas as imagens que vai ver nesta publicação foram geradas por ferramentas de inteligência artificial generativas. Aquilo que de forma comum chamamos de ferramentas de "texto para imagem". O elefante está esclarecido, podemos continuar?

Preâmbulo ao tema - para mim é importante.

O mundo está a mudar. Tudo está a mudar. Das alterações climáticas que alguns ainda teimam em constestar, do preço das casas que não pára de aumentar ao inevitável elefante por debaixo do tapete, a inteligência artificial, este é um novo mundo feito de mudanças. E de desafios. 

Há mais de não sei quantos anos que iniciei a minha atividade, tantos que nem me preocupam os números. Sempre abracei desafios e sempre me preocupei por estar - pelo menos - não há frente do meu tempo mas pelo menos dentro dele.

Hoje, aqui e agora vamos falar de IA na criação intelectual, na fotografia mas não apenas. Porque a extrapolação pode ser feita em qualquer área correlacionada.

Comecei muito cedo a experimentar, a inscrever-me em programas beta, em muitas horas investidas de experimentação e observação crítica, nesta coisa da IA. E agora vamos a isso. 

Stable Difusion
Imagem gerada por IA - Stable Difusion

A autenticidade

Criar é pensar, antes de mais e de qualquer outro ato mecânico ou material. Aliás, a fotografia é um ato de criação mecânica, reproduzível e, como tal altamente discutível sobre esse ponto de vista, o da criação única e individual.

A minha pergunta é apenas uma - não será o ato de pensar, de imaginar, um ato de criação intelectual per si? E é aí que, desde logo, a questão mais pertinente se coloca. Na minha modesta opinião.

Tantas vezes olhei para uma cena, para um desejo de imagem, de transmissão de pensamentos e partilha dos mesmos com outros, e pura e simplesmente não me foi possível, seja por inaptidão técnica ou porque apenas e só me esqueci da câmara. Quantas vezes me desiludi nas minhas mais profundas frustações de criador porque apenas e só não consegui? Foram mais do que as que consegui, seguramente, mas isso não me preocupa. 

E será que estas novas ferramentas não poderão apenas proporcionar ao comum dos mortais a possibilidade de também serem, de também pensarem, de também quererem partilhar, mesmo que as condições físicas e materiais não estejam reunidas?


Imagem gerada por IA - Mid Journey
Imagem gerada por IA - Mid Journey

Quem não imaginou esta mulher de vestido vermelho num dia de nevoeiro, à beira mar? E quantas vezes isso foi possível? Quem nunca imaginou esta imagem - ou já agora de um homem de calções vermelhos - que atire a primeira pedra. E eu estarei aqui para levar com ela, de frente.

A abordagem profissional

A IA não é apenas uma realidade para entusiastas, para "quem quer ser mas não está bem lá" mas já tem um contexto importante e decisivo para profissionais. Gostam de perder horas a aplicar palavras passe às vossa imagens e a organizar bases de dados de imagens? Gostam de perder horas a editar tarefas repititivas e entediantes? Gostam de redimensionar 2000 imagens para vários formatos e proporções para vários meios de saída? Pois, eu também não. Não mesmo.

A IA tem inegáveis vantagens em áreas de automação, produtividade e de otimização daquilo que é o vosso ativo principal - o tempo. E se conseguir criar de forma genuína, individual e ainda assim conseguir ser mais produtivo e rentável naquilo que é a gestão do seu negócio, tanto melhor.

Mas, e quanto às imagens, a sua qualidade - ou seja lá o que isso for? A IA está, no que concerne à aplicação na fotografia e em áreas de criação intelectual, num estado embrionário. Lembro-me bem da minha primeira câmara digital, uma Casio QV10 (640x480 interpolados). Hoje, nem se fala, na altura, um expoente de tecnologia. Estamos no começo.

A qualidade discutível de imagem, não apenas na sua dimensão em pixéis mas também em aspetos como o texto em imagens, o look and feel fotográfico, as mãos estranhas e os olhos totalmente irreais, os seis dedos numa mão, etc e tal, nem se colocam. Mas repito, isto é apenas o começo e em pouco mais de um ano a qualidade e geração das imagens aumentou exponencialmente, na razão inversa do quadrado da distãncia. Tal como a luz, aquela que molda as nossas preciosas fotografias.

Imagem gerada por IA - DALL·E 2
Imagem gerada por IA - DALL·E 2
Imagem gerada por IA - Stability AI
Imagem gerada por IA - Stability AI

Uma nota final

Este é um tema pertinente, decisivo para os que estão a entrar neste maravilhoso mundo novo mas também para os velhos como eu. A IA não vem acabar com artes tão nobres e importantes como a fotografia, ou outras artes de criação intelectual. O pensamento crítico e o ato de intervenção sobre aquilo que se passa à frente dos nossos olhos continuará a ser o mais importante. Mas muito provavelmente vai acabar com aqueles que não estiverem dispostos a abracá-la em seu prol, com todos os prós e os contras que daí poderão advir.

E para fechar, vou deixar de fotografar e esperar que esta tecnologia se emancipe e se torne mais madura, para apenas sonhar e imaginar? Não, em definitivo, porque aquela imperial à beira da praia enquanto espero a luz certa para aquela fotografia é-me inestimável. Mesmo que me tenha esquecido de colocar o cartão de memória na câmara antes de saír de casa.

É 3 de Outubro, está ainda tempo de verão e esta casa está um forno. Por isso mesmo deixo-vos com algumas imagens frescas. Geradas por IA, naturalmente. E se calhar vou dar um salto ao Bar dos Gémeos. Com câmara e cartão de memória, espero :-)

Nota posterior à publicação original: neste mesmo blogue foi publicado uma sequência a esta publicação. Pode seguir a mesma aqui.
Nota adicionada em 17/03/2024.