Ricardo Dias

Viagem no tempo: O charme irresistível da fotografia retro

Oct 19, 2025Por Ricardo Dias
Ricardo Dias

Lembras-te daquela sensação de abrir uma gaveta esquecida e encontrar um rolo de filme ainda por revelar? Ou de folhear álbuns antigos com fotos dos anos 70 ou 80, onde toda a gente tinha bigodes duvidosos e calças à boca de sino? Há qualquer coisa naquele grão, naquelas cores desbotadas, que nos transporta imediatamente. É como cheirar o perfume da avó – de repente, estás noutro sítio, noutro tempo. Quem nunca sonhou ser fotógrafo nos anos 80, com uma confiança inabalável e um casaco de ganga demasiado grande? Mas afinal, porque é que continuamos tão fascinados por esta estética imperfeita numa era de câmaras perfeitas em 4K que cabem no bolso?

estilo dos homens de 1980 com espaço da cópia

Das câmaras de fole aos filtros do Instagram

A fotografia retro não começou com app's de edição nem filtros digitais. A sua história começa nas primeiras câmaras analógicas do século XX, quando cada foto era um pequeno investimento. Mas foi nas décadas de 60 a 80 que este estilo explodiu verdadeiramente. Os filmes Kodak capturavam os verões intermináveis, as Polaroid registavam festas da contracultura em tempo real, e cada clique tinha peso – literalmente, porque aquelas câmaras pesavam uma tonelada.

Este estilo analógico era mais do que técnica; era o espelho cultural de uma época. Reflectia o glamour rebelde de Hollywood, a energia vibrante do movimento hippie, a simplicidade genuína da vida pré-digital. Pensa na estética de séries como Stranger Things – é exatamente essa nostalgia visual que elas exploram. Naquele tempo, esperar pela revelação das fotos era um suspense maior. Podias ter uma obra-prima... ou uma coleção de borrões que “claramente foram artísticos”. Não havia delete, não havia segunda tentativa instantânea. E talvez seja exatamente isso que nos fascina: a fotografia vintage tinha consequências, tinha alma.

Two retro photo frame. Nostalgic scrapbooking style. Mock up template. Copy space for text. Isolated on white background

O paradoxo da perfeição digital

Então, porque é que, em pleno 2025, com tecnologia que parece ficção científica, estamos obcecados com um look imperfeito? A resposta está numa palavra: autenticidade. Vivemos numa era em que qualquer selfie passa por 15 filtros antes de ver a luz do dia, em que a perfeição digital se tornou tão comum que deixou de ser especial. E essa saturação criou uma fome por algo real, genuíno, honesto.

A fotografia nostálgica oferece uma escapatória para tempos que parecem mais simples (mesmo que não fossem). É a ironia suprema: as mesmas redes sociais que nos sufocaram com perfeição artificial agora popularizam filtros granulados e tons desbotados. Hoje, toda a gente quer parecer que fotografou com a câmara da avó, mesmo que seja num smartphone de última geração. É a nossa pequena rebelião contra o excesso de polimento, o nosso modo de dizer: “Ei, ainda sou humano, e as minhas fotos também podem ser.”

A avó comigo e com minha irmã Jola pequeno

Inspiração: os novos mestres da nostalgia

Precisas de exemplos? Deixa-me apresentar-te a “Maria das Sombras”, uma fotógrafa que usa exclusivamente câmaras dos anos 70 para transformar cenas urbanas banais em postais melancólicos. O segredo dela? Luz natural, paciência infinita e aceitar que metade das fotos vai sair “artisticamente desfocada”. O trabalho dela prova que não precisas de equipamento moderno – precisas de um olhar treinado.

Ou pensa no “Rui dos Retratos”, que captura os amigos com luz suave e cores quentes, fazendo qualquer pessoa parecer uma estrela de cinema indie dos anos 60. Transforma qualquer café da moda num diner americano – só falta mesmo o milkshake e a jukebox! A lição aqui é clara: o estilo retro não está na câmara, está na visão. Podes criar magia vintage com praticamente qualquer equipamento, desde que saibas onde procurar a luz certa e não tenhas medo da imperfeição.

Retro mulher no restaurante americano

O teu bilhete para o passado (sem vender um rim!)

Curioso para experimentar? Óptimas notícias: não precisas de hipotecar a casa para comprar uma Leica vintage! Aqui vão dicas práticas que qualquer pessoa pode começar a usar hoje:

Apps de edição mágicas: O VSCO, o Tezza ou os presets do Lightroom são os teus melhores amigos. Procura filtros com grão, tons quentes e contraste baixo. É basicamente uma máquina do tempo digital – sem necessidade de plutónio.

Procura a hora dourada: Fotografa ao nascer ou pôr do sol. Aquela luz dourada e suave faz metade do trabalho por ti, criando instantaneamente aquela atmosfera sonhadora que os filmes antigos tinham naturalmente.

Equipamento básico e acessível: Queres algo físico? Uma Fujifilm Instax dá-te a gratificação imediata, ou mesmo uma Polaroid por menos de 100 €. Se já tens uma câmara digital, experimenta uma lente de 50 mm f/1.8 – é barata e cria aquele fundo desfocado clássico que toda a gente adora.

Abraça a imperfeição: Grão? Óptimo. Cores ligeiramente estranhas? Perfeito. Foto tremida? Diz que foi intencional, é conceito artístico! O charme do vintage está precisamente em não ser perfeito.

Cenários com história: Procura locais com alma – paredes descascadas, cafés antigos, feiras da ladra. Os melhores fundos retro já existem, só tens de os encontrar.

Vestidos de verão das mulheres em exposição no mercado de Camden

Captura o momento, não a perfeição

A fotografia retro é mais do que um filtro bonito ou uma moda passageira. É uma máquina do tempo emocional, um lembrete de que a beleza muitas vezes reside no imperfeito, no autêntico, na memória que uma imagem consegue evocar. Cada grão conta uma história, cada tom desbotado carrega nostalgia.

Por isso, pega na tua câmara – ou no teu telemóvel, quem sou eu para julgar – e faz uma viagem no tempo. Experimenta, brinca, erra. Quem sabe que histórias vais contar? E se as fotos saírem tremidas ou com aquele tom esverdeado estranho, não te preocupes. Respira fundo e diz com confiança: foi de propósito. É arte, é vintage, é perfeito na sua imperfeição. Afinal, no mundo da fotografia retro, até os erros têm charme.

Retrato vintage, ano de 1912