Ricardo Dias

Desmistificando mitos comuns sobre fotografia digital

Dec 26, 2024Por Ricardo Dias
Ricardo Dias

A fotografia digital é melhor ou pior que o filme?

A tecnologia digital revolucionou a forma como registamos, editamos e partilhamos imagens fotográficas. No entanto, existem muitos mitos acerca desta tecnologia, associada às nossas fotografias.
Vou desmistificar alguns dos equívocos mais comuns para o ajudar a conseguir melhores fotografias, sem se deixar levar por informações incorretas ou pelo "diz que disse".

E vou começar pela pergunta "do queijinho", a velha questão do filme Vs digital. Ambas as tecnologias são válidas e carregam em si vantagens e desvantagens. Como digo frequentemente aos meus formandos e alunos, não me veria hoje a trocar as minhas câmaras digitais por uma de filme, em definitivo, mas sobre isso já lá chegarei.

Como ainda tenho várias câmaras de filme, e também uma instantânea, ainda me vou obrigando a, pelo menos uma vez por ano, comprar 2 rolos de filme 24x36mm e outros 2 de 120, para "rodar a mecânica" das câmeras que ainda possuo, e que faço questão de manter em funcionamento. Compro ainda 2 a 4 cartuchos para a minha câmara instantânea. É habitualmente um ato que me dá um enorme prazer, ainda, e que resulta em cerca de 100 fotografias em papel por ano. E como eu gosto do papel.

DSLR camera on wooden surface

Quanto às minhas várias câmaras digitais, confesso que fotografo fundamentalmente com as mais recentes mas aqui e ali vou colocando uns cartões nas mais "velhinhas" para garantir que também continuam a fotografar.

Mas não quero fugir à pergunta e questão relacionada com a comparação entre ambas as tecnologias. E a verdade é que, hoje, seria muito dificil voltar ao filme, não pelo meio em si mas pala menos praticidade do ato, nomeadamente o de partilha, por exemplo aqui no meu website.
E verdade é que a flexibilidade extrema de poder fotografar em RAW, aliada à facilidade de gestão da minha base de dados de imagens e de partilha "na ponta dos dedos" me faz fotografar quase a 100% com uma câmara digital.
Não é a comparação direta da tecnologia mas sim a praticidade da mesma.

O sensor de imagem digital da câmera Dslr

E agora vamos aos mitos.

Mito 1: "Câmeras com mais megapixels são sempre melhores"

Um dos mitos mais comuns na fotografia digital é que mais megapixels resultam automaticamente em fotografias melhores. Embora uma dimensão em pixels mais alta possa ser vantajosa para impressões de grande dimensão, a qualidade da imagem depende de muitos outros fatores.

Não se esqueça que quanto mais megapixels "enfiar" num mesmo tamanho de sensor menor será cada um desses megapixels e o respetivo fotodiodo, o elemento que efetivamente recebe a luz. A consequência desde logo será que a carga dinãmica de cada um deles será mais reduzida e habitualmente origina ainda uma mais perene relação entre o sinal recebido e o ruído gerado.

Depois, os abjetivas a tecnologia do sensor em si e as condições de iluminação são igualmente importantes para registar fotografias com uma melhor qualidade. E deixem-me insistir na ótica, até porque o que torto começa dificilmente se endireita.

Disquete

É ainda essencial considerar o tipo de fotografia que você deseja fazer. Para a maioria dos usos quotidianos, uma câmera com 12 a 20 megapixels é mais do que suficiente para obter imagens nítidas e detalhadas. E não esqueça de considerar a realidade à posteriori da captura - mais megapixéis geram ficheiros mais pesados, necessitam de maiores cartões de memória e discos de armazenamento cada vez maiores. Ou como eu costumo afirmar - 2 TB de repente parecem tão pouco.

Mito 2: "A edição digital destroi a autenticidade da foto"

Outro mito comum é que qualquer edição feita em uma imagem digital compromete sua autenticidade. No entanto, a edição é uma parte importante do processo fotográfico. Desde os tempos da fotografia analógica, ajustes como contraste, exposição e cor eram feitos em laboratório.

photo editing

Na fotografia digital, ferramentas de edição como o Photoshop ou Lightroom permitem aprimorar uma imagem sem perder sua essência. A chave é usar essas ferramentas para realçar a beleza natural da foto, não para criar algo completamente artificial.

Mito 3: "Fotografar no modo automático é para iniciantes"

Muitas pessoas acreditam que usar o modo automático é apenas para amadores. No entanto, mesmo fotógrafos profissionais utilizam esse recurso em situações específicas. O modo automático pode ser extremamente útil em ambientes de iluminação complexa ou quando é necessário capturar rapidamente um momento fugaz.

O importante é conhecer sua câmera e saber quando alternar entre os modos automático e manual para obter os melhores resultados possíveis.

Camera.

Mito 4: "Apenas as câmeras caras conferem boas fotografias"

Embora câmeras de custo mais alto ofereçam recursos avançados, não são necessariamente obrigatórias para capturar fotografias de excelente qualidade, inclusive profissional. Com o conhecimento adequado e a prática, é possível registar imagens impressionantes com câmeras mais acessíveis ou até mesmo com smartphones modernos. E se eu sei daquilo que estou a falar, porque para além de ter câmeras grandes e pretas e pesadas fotografo cada vez mais com câmeras de menor dimensão, mais leves, sem nunca comprometer na ótica, bem como com smartphones.

O segredo está em entender os princípios básicos da fotografia, como composição, a iluminação e o timing certo. Aliás, uma das recomendações que dou sempre aos meus formandos é que, quando exportarem imagens para entregar para fora (clientes, por exemplo) que nunca incluam informação de IPTC fas ferramentas que usaram (câmaras e software) - o trabalho de um fotógrafo só pode ser avaliado em função do seu resultado e nunca dos meios que usou para o obter.

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Mito 5: "Nunca fotografe em Jpeg, apenas em RAW"

Eu costumo dizer, e afirmar com propriedade para tal, que grande parte dos meus cursos, mesmo os que envolvem smartphones, são cursos de evangelização para o RAW. Mas também digo, e repito, que o melhor ficheiro de imagem do mundo é o JPEG. Contradição? Nem por isso!
Vamos por partes.

O formato RAW é imprescíndivel no meu workflow. É um formato em bruto, que retém toda a profundidade de cor nominal do sensor, é mais prático no processo de revelação/edição, mas não é um ficheiro universal. Aliás, não é um ficheiro de imagem, é um formato proprietário, na esmagadora maioria das vezes, do fabricante da câmera.

O JPEG (*jpg) é um ficheiro de imagem cheio de problemas no seu processo de compressão (lossy, com perda de informação), que origina perda de qualidade nativa, mas carrega em si duas vantagens únicas no atual panorama de registo de de partilha de imagens fotográficas.

Fundo de Código binário

No registo, eu recomendo que fotografem sempre em RAW+JPEG. A razão principal é, necessitando de um ficheiro de imagem imediatamente disponível, ali está ele, prontinho a usar. Depois, como método de aprendizagem, é a "prova material do crime" - todas as asneiras que fizeram no ato fotográfico estão ali escarrapachadas. Está mal, está mal, está bem, está bem. É a transparência total e uma ferramenta didática sem par no processo de crescimento enquanto fotógrafo.

Na partilha, é o único formato - ainda - que se pode considerar 100% compatível. Há ficheiros de imagem mais recentes, com melhores caraterísticas, mas ainda não são compatíveis e, muito importante, retrocompatíveis com todas as plataformas de partilha de imagem atualmente existentes. O JPEG abre em tudo, MacOS, Windows, Unix, Linux, iOS, Android, etc. e tal. Por esse motivo é, ainda hoje, o formato de eleição para partilhar imagens com o mundo, porque o mundo, todo o mundo, o pode ver.

Conclusão

Desmistificar estes mitos pode ajudar quem começa e quem já é profissional a aproveitar ao máximo esta nova tecnologia. Lembre-se de que a criatividade e a prática são fundamentais para crescer no seu ato fotográfico.

Não se deixe limitar por equívocos e explore o mundo da fotografia com confiança, em filme ou digital.